Por que o ouro pode ser seu melhor investimento, mas não para aplicar seu dinheiro agora
Em meio ao surto do coronavírus, os investidores se deparam com um momento de pânico nos mercados. Dentro deste cenário, investir em ouro se mostra uma saída segura para este momento.
Foram seis circuit breakers em oito pregões – algo inédito na história da bolsa de valores (BOVESPA) brasileira. Dada a situação, os investidores estão buscando formas de se blindar na tentativa de mitigar as perdas.
Circuit breaker é um mecanismo que trava operações na bolsa de valores em momentos de pânico ou euforia no mercado.
No nível um, ele trava as operações durante trinta minutos quando atingem dez pontos negativos; por uma hora quando atingem 15 ponto negativos; e só retorna quando a bolsa decidir se o acumulado do dia chegar a menos 20 pontos.
Nesse cenário, o ouro aparece como uma das formas mais populares de fazer o hedge, transação que visa proteger o investidor de prejuízos.
Investindo em ouro
O ouro é negociado mundialmente e tido como uma opção muito segura de diversificação da carteira de ativos.
Ele é um recurso natural finito e sua escassez não tem como ser compensada, por isso, seu valor não está sujeito a intervenções econômicas e estratégicas, o que torna sua cotação mais estável.
Assim, na prática, o investidor que aplica em ouro não busca uma valorização rápida, mas uma estabilidade do valor investido e um potencial de valorização no longo prazo.
No acumulado dos últimos 12 meses, o ouro tem alta de quase 17% – algo bastante significativo no mercado financeiro atualmente.
Veja também: Mercado de ações e tudo o que você precisa saber para começar a investir nele
Variação do ouro: alto preço durante crises
Mas por que o investidor precisa ficar atento ao aplicar em ouro durante essa crise que o país enfrenta? Isso porque a proteção de carteira deve ser feita antes da crise.
O ouro foi uma ótima oportunidade, mas como toda proteção de carteira funciona como um seguro de carro.
Não adianta comprar depois de bater o veículo. É isso o que aconteceu com o ouro, já foi o timing. O investidor tinha que ter comprado antes da crise estourar.
A variação do ouro “precifica catástrofe” ou seja, sobe bastante depois de um momento de mercados em queda. Esse momento já passou.
Mesmo com o ouro, que é considerado um ótimo ativo para hedge – recomendados quando você quer se prevenir de grandes perdas -, se o investidor não vender na hora certa pode sair no prejuízo: deixa de ter o porto seguro e passa a ter uma commodity, ou seja, passa a ter um preço uniforme.
Por isso, ao diversificar o investidor precisa tomar cuidado com os ativos que vai adquirir, ainda mais nesse momento que não sabemos o que vai acontecer.
Outro ponto muito importante neste momento é a correlação de ativos que o investidor tem na carteira.
Correlação de ativos
Nesse sentido, vale explicar relação entre ouro e o Treasury Americano, uma espécie de Tesouro Direto dos EUA.
O tesouro americano e o ouro tem geralmente uma correlação negativa um com o outro.
Quando a curva de juros futuros baixa o ouro se valoriza, e quando sobe ele deprecia – sempre de acordo com a expectativa do mercado.
Neste momento, o tesouro americano está pagando juros baixos porque a demanda foi muito alta dado o pânico no mercado e o ouro fica caro. Novamente, reforçamos: não é o momento de comprar.
Ainda nos circuit breakers da bolsa americana o treasury e o ouro apresentaram quedas, mas um efeito lógico era que esses ativos subissem, já que se valorizam em crises.
Isso prova que o mercado está irracional e contradiz o que era esperado
E isso impacta justamente a correlação. Algo que deveria se comportar de maneira X está na verdade se comportando de maneira y por conta de uma situação de liquidez que deixa as coisas imprevisíveis e irracionais dado a pandemia.
Comprar ouro como proteção agora pode ser um risco, já que o ativo não está se comportando da maneira esperada.
Além disso, é ativo difícil: não paga dividendo (parcela de lucro apurado), não paga juros, não tem fluxo de caixa é muito complicado achar um valor justo para ele.
Índice do medo
O Vix, conhecido como índice do medo, mede as expectativas dos investidores, para os próximos 30 dias, sobre as ações que compõem o S&P, índice que concentra as empresas listadas mais relevantes dos Estados Unidos.
Nas últimas semanas, o índice teve alta valorização comprovando a incerteza dos investidores para o momento.
Ou seja, não quer dizer que não vale a pena investir em ouro, pelo contrário, o ativo já ofereceu boas oportunidades, mas o contexto global não é favorável.
O ideal neste momento é, para o investidor que pensa no médio e longo prazo e não precisa de dinheiro imediatamente, fazer administração de caixa: quem tem caixa consegue se proteger mais no fim do dia.
Pode eventualmente comprar ativo que está barato.
Mas fica o alerta: ao comprar posições para cobrir outras pode correr o risco de trocar os pés pelas mãos e perder dinheiro nas duas pontas, porque os ativos não estão se comportando de forma padrão devido ao cenário.
Se o investidor não tem caixa, a recomendação é aguardar. É estatisticamente comprovado que se a pessoa vender as ações na baixa, no médio e longo prazo pode ter prejuízo. É preciso ter paciência.
Veja também: Bolsa de valores, entenda como ela funciona
Então, o que fazer?
A curto prazo, com o VIX em alta de 70/80%, é impossível acertar. Agora é fazer uma boa gestão de caixa, não vender bons ativos em baixa (caso os fundamentos não tenham mudado).
Se for investir algum recurso, invista naquilo que é para longo prazo e que você tenha estômago para aguentar eventuais quedas e lembre que antes de melhorar pode piorar mais.
Ou seja: paciência. Isso vale para todos os investimentos feitos. O momento é de incerteza, portanto o ideal é movimentar pouco as peças que estão no tabuleiro.
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